Thursday, March 6, 2014

A importância das nossas experiências na Primeira Infância

Está provado cientificamente que a primeira infância é uma fase definitiva na formação da personalidade da criança. Vários estudos confirmam que tudo o que a criança experiencia, da gestação aos 6 anos de idade, pode influenciar na sua vida adulta. Por ser uma fase tão preciosa e definitiva na vida das crianças é nosso papel como educadores e pais, oferecer o máximo de experiências positivas as nossas crianças. Quanto mais a criança tiver a oportunidade de explorar, conhecer, exercitar, maiores são as chances de impulsionar o seu desenvolvimento cognitivo, físico e emocional. A presidente da ACMB, Melissa Bonotto, reflete sobre esse tema e compartilha suas impressões e experiências com a gente aqui no blog:

Dividindo minha prática professional
Eu tenho trabalhado no Centro de Educação Infantil Bright Horizons (uma rede Americana com centros nos EUA, Irlanda, Reino Unido e India) e faço parte da comissão de avaliação e inovação do currículo na Irlanda. Não seguimos apenas uma pedagogia, baseado em estudos científicos e reflexões adaptando a nossa realidade de um centro voltado para a criança e guiado pelas necessidades das crianças, trabalhamos seguindo aspectos de pedagogias como HighScope, Reggio Emiglia, Montessori, Steiner Waldorf e Marte Meo.
Na Bright Horizons, usamos uma linguagem positiva com as crianças em todos os momentos. Se uma criança apresenta comportamento agressivo constante e repetitivo, medidas de ação são tomadas imediatamente. O primeiro passo é tentar entender o que a criança está querendo comunicar. Ainda sem linguagem verbal ou em fase inicial, a nossa observação constante e o relacionamento aberto com os pais, ajudam a diagnosticar o cenário. Mudanças no ambiente físico, atenção um a um, ficha de observação de comportamento e linguagem positiva. Se uma criança morde ou empurra, nossa correção deve ser feita na hora, no nível da criança, com contato olho no olho. Sem simbolismo ou no início da fase da representação, a criança precisa de ação imediata: “Morder tem que párar”, “Empurrar machuca o amiguinho”. Nossa função é oferecer um ambiente próspero, carinhoso e acolhedor para a criança. E que prosperidade uma criança terá num ambiente cheio de “nãos?”. Por isso a importância da linguagem positiva, que junto com a ação imediata e o contato olho no olho no mesmo nível da criança ajudam na correção da atitude.
É fundamental que a criança receba limites. E o nosso papel como educadores ou pais é desafiador para fazê-lo de forma positiva para a criança. Ela precisa entender que se machucar o amiguinho, ele ficará triste. “Puxar tem que párar. Se você empurrar, ele vai ficar triste. Nós queremos nossos amiguinhos felizes para brincar!” Tudo precisa ser explicado, a criança precisa das razões. “Correr no parquinho, pois se correr aqui dentro onde não tem espaço, pode cair, bater-se nos móveis e se machucar!”
Finalmente, o adulto atua como modelo para as crianças. É frustante ver educadores ou pais que dizem uma coisa e fazem outra na frente da criança. Ela precisa de exemplos, limites e, tudo isso com muito amor. Que tipo de impacto ensinar que devemos esperar o sinal verde e atravessar no vermelho terá na criança? O exemplo atua como elemento positivo, assim como o ambiente, na formação da criança. Adultos que gritam e dizem pra criança não gritar. Adultos que não usam palavras educadas e cobram o mesmo delas, e assim por diante. Mais uma vez, muitas ações das crianças são para testar os limites do que e o quanto podem fazer. É de extrema importância que o limite por parte dos educadores e pais aconteça imediatamente, de forma afirmativa e positiva, com firmeza no tom de voz e muito amor. É importante para a criança entender que se ela te deixou triste naquele momento, isso não significa que você não a ama mais. Use frases diretas e claras e seja consistente em todas as situações: “Mamãe ficou triste porque você machucou a amiguinha”.

Cada experiência da primeira infância podem resultar em consequências na nossa vida adulta. Por isso, tanto agressividade excessiva sem receber atenção, quanto a falta de socialização, podem sim, ter influência no nosso comportanto adulto. Aprender a socializar pode não ser uma tarefa fácil. Dependendo da personalidade de cada um, pode ser mais fácil ou mais difícil.
Fazer amigos, brincar juntos, aprender a dividir, respeitar a sua vez, expressar as suas idéias e vontades para o outro. Também, reconhecer o seu limite e saber respeitar o espaço do outro. Existem muitos jogos e brincadeiras que podem ser usadas para trabalhar estes pontos com as crianças. Na Bright Horizons uma técnica que nos ajuda muito é o medidor de tempo. Quando duas crianças querem o mesmo brinquedo ao mesmo tempo, o importante é mostrar que todos podem ter uma chance, mas precisam respeitar a vez do coleguinha. Crianças na faixa etária pre-escolar já usam o medidor de tempo sozinhos, pois como fazem desde pequenos, já estão acostumados com o conceito. A prática de esportes abre uma grande série de oportunidades para a boa conduta da socialização.
Concluindo, é importante frisar que a criança precisa de consistência e muito amor. Educadores e pais precisam trabalhar juntos e agir na mesma linha para que ela entenda os limites e tenha múltiplas oportunidades para se desenvolver e prosperar. Nehum processo é completo sem amor, paciência e carinho. Brincar no chão com a criança, no mesmo nível, dar atenção e ouví-la, mostrar a ela o quanto você a ama, são simples maneiras de formar uma boa base de um adulto confiante, emocionalmente seguro e feliz.

Esta é uma das razões que a ACMB – Associação Cultural Mônica Bonotto – acredita e pratica com perseverança a contação de histórias entre as nossas crianças lagoenses. O ato de contar história é uma prática bastante positiva para a formação de valores, entendimento de limites e desenvolvimento da linguagem e da criatividade, entre tantos outros benefícios. A gente deixa também alguns links para quem quiser saber mais sobre o tema:
Agressividade Infantil
Teoria do Desenvolvimento Humano
O impacto da Primeira Infancia na compreensão do mundo
Zero a Seis Fases do desenvolvimento - Piaget HighScope

Melissa Bonotto é Professora Primária, Bacharel em Comunicação Social, Mestre em Estudos do Desenvolvimento na UCD – University College Dublin, e presidente da ACMB.